Os macacos podem aprender a reconhecer-se no espelho, descobriu uma nova pesquisa que ajudará a entender melhor a auto-consciência.
Os seres humanos são capaz de se reconhecer no espelho a partir da idade de dois anos. Mas outros animais, como os grandes macacos e os golfinhos também podem fazer o mesmo.
No entanto, os macacos rhesus nunca tinham sido capazes de conseguir isso. Mas agora uma nova pesquisa mostrou que isso não significa que não podem ser ensinados.
Uma equipe de cientistas da Academia Chinesa de Ciências conseguiu ensinar macacos rhesus a reconhecer o seu próprio reflexo num espelho. E, assim que perceberam isso, rapidamente utilizaram os espelhos para verificar os seus rabos.
A pesquisa vai ajudar a lançar luz sobre a base neural da auto-consciência em humanos e animais, e também aponta para oportunidades futuras de tratamento para doenças como o autismo e Alzheimer.
"Nossos resultados sugerem que o cérebro do macaco tem o 'hardware' de base para o reconhecimento no espelho, mas eles precisam de formação adequada para adquirir o 'software' para alcançar o auto-reconhecimento", disse Neng Gong, que liderou a pesquisa.
Pesquisas anteriores mostraram que, apesar dos macacos rhesus poderem usar espelhos para observar outros objetos, eles não mostraram sinais de se reconhecer a si mesmos. Isto é avaliada através de pesquisa científica com algo chamado de teste de marca padrão.
Carl Engelking explica no seu blog para a revista Discover em que consiste o teste: "Basicamente, os pesquisadores colocam uma marcação colorida e sem cheiro no rosto de um animal ou fazem brilhar um ponteiro laser num lugar do seu corpo. Se, ao olhar no espelho, o animal toca o seu próprio rosto ou esfrega a marca, eles passar no teste".
No passado, não importava o que os pesquisadores tentassem, eles não conseguiam fazer com que os macacos se reconhecessem no espelho. Mas, no novo estudo, a equipe adotou uma nova abordagem, e treinou sete macacos rhesus. Veja abaixo o video do experimento.
Eles fizeram os animais sentarem-se na frente de um espelho e colocaram um laser ligeiramente irritante nos seus rostos. Quando eles tocassem no ponto em seu rosto, davam-lhes uma guloseima. Depois deles aprenderem a fazer isso, eles repetiram o processo usando lasers não-irritante e, eventualmente, um corante vermelho inodoro.
Depois de 2 a 5 semanas após o treinamento, os macacos foram colocados de volta em suas gaiolas, que foram enfeitadas com espelhos de corpo inteiro. Os pesquisadores, então, fizeram brilhar o ponteiro laser em diferentes partes dos corpos dos macacos, e, vendo isso no espelho, os macacos começaram a tocar no local do corpo.
Os macacos não treinadas nem sequer reconheceram o ponto quando se viram no espelho. Para se certificar de que os macacos não tocavam no ponto do laser na esperança de obter uma recompensa, os pesquisadores testaram-nos ao apontar o laser para um macaco destreinado na sua gaiola. Ao invés de tocar em si mesmos, eles tocavam na marca que estava no corpo do seu amigo.
Os macacos não só tocavam nos seus próprios rostos como também cheiravam o dedo para tentar descobrir o que era, quando um ponto virtual foi colocado em um espelho de reflexão informatizada deles. Era a prova de que eles passaram no teste marca padrão.
E uma vez que eles tinham descoberto que eles estavam olhando para si mesmos, eles rapidamente utilizaram os espelhos para inspecionar outras partes do corpo que normalmente não podem ver, os seus rabos, sem ser solicitado. É reconfortante saber que a vaidade não é uma característica exclusivamente humana.
A pesquisa, que foi publicada na revista Current Biology, oferece uma visão fascinante sobre como os nossos cérebros regulam a auto-consciência. Poderá também ter algumas aplicações práticas no que diz respeito ao tratamento de distúrbios cerebrais que impedem os seres humanos de se reconhecer em espelhos, tais como na esquizofrenia, doença de Alzheimer e autismo.
"Embora o comprometimento da auto-reconhecimento em pacientes implique a existência de déficits cognitivos/neurológicas em mecanismos cerebrais de auto-processamento, a nossa descoberta levantou a possibilidade de que tais déficits podem ser sanados através de treinamento", escreveram os autores no artigo. [Sciencealert]