Conheça a impressionante ciência da ressaca

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Conheça a incrível ciência da ressaca

A ciência da ressaca explica como o álcool afeta o organismo e diz-lhe o que pode fazer para aliviar as suas consequências.


Depois do Carnaval ou de outras comemorações em que é comum abusar do álcool, muitas pessoas enfrentam um conhecido efeito no dia seguinte.

A ressaca - que inclui dor de cabeça, boca seca, dor de estômago, enjoo e tontura — se manifesta porque o álcool atua em diferentes partes do organismo do momento em que é consumido até ser completamente eliminado pelo corpo.

Nos primeiros goles, ele tende a causar euforia e desinibição, reflexos de sua ação no sistema dopaminérgico, localizado no cérebro.

"É a mesma região onde atua a cocaína, mas em menor intensidade no caso do álcool", diz Rosana Camarini, professora do departamento de farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

Se a ingestão continuar, o efeito passa a ser maior no sistema Gaba, principal depressor do sistema nervoso central, causando sonolência e sensação de desânimo. Nessa fase, a bebida age no mesmo local que os medicamentos ansiolíticos.

"Duas doses são suficientes para fazer com que você fique mais alegre, falante. A pessoa muda um pouco a atitude, fica mais ousada e descontraída, mas também perde um pouco de reflexo. Se aumentar a dose, terá um ápice de euforia. Depois começa a ter sono, voz pastosa e perda da coordenação", afirma Alfredo Salim, clínico geral do Hospital Sírio-Libanês.

Irritação


Ao chegar ao estômago, o álcool provoca uma irritação na mucosa que reveste o órgão, em geral proporcional à quantidade consumida. Esse processo se chama gastrite alcóolica e às vezes não provoca nenhum sintoma. Com uma ingestão prolongada, tende se tornar crônica.

Depois de entrar na corrente sanguínea, a bebida também pode provocar irritações no fígado e no pâncreas. "O fígado é capaz de se regenerar de algumas agressões, e não sente falta daquilo que foi machucado na irritação aguda, mas, se isso ocorre de forma contínua, essas inflamações deixam de ser assintomáticas e podem levar à cirrose", explica Salim.

Ação das enzimas


O fígado é o principal órgão responsável por metabolizar o álcool, isto é, "quebrá-lo" em partes menores. Lá, ele vai sendo transformado com a ação das enzimas. A primeira delas, a álcool desidrogenase, transforma o álcool em acetaldeído, um composto com menos hidrogênio.

Na segunda etapa, essa substância sofre ação de uma segunda enzima e é transformada em ácido acético, substância presente no vinagre, e é eliminado pelo organismo em forma de água e dióxido de carbono.

"O grande 'vilão' é o acetaldeído. Quando uma pessoa consome muito álcool, o organismo não dá conta de metabolizar tudo e o acetaldeído começa a se acumular, provocando os sintomas da ressaca, como dor de cabeça, náusea e taquicardia", afirma Rosana.

Por essa razão, uma mesma quantidade de álcool consumida rapidamente e ao longo de um intervalo maior apresenta efeitos diferentes no organismo, uma vez que o corpo só consegue eliminar certa quantidade de cada vez. E os efeitos são diversos de um indivíduo para outro porque a atuação das enzimas difere de acordo com a genética de cada um.

Entre a população asiática, cerca de metade das pessoas possui uma mutação no gene que produz a segunda enzima de quebra do álcool, tornando seu metabolismo menos eficiente. "Por isso é comum que asiáticos, mesmo bebendo pouco, fiquem vermelhos e passem mal, como se fosse uma ressaca aguda", diz a pesquisadora.

As mulheres também tendem a sentir mais os efeitos da ressaca do que os homens. Isso acontece porque elas possuem uma porcentagem de água menor no organismo, de forma que o álcool é menos diluído e fica em uma concentração mais alta no sangue. Além disso, as enzimas que quebram a substância são menos ativas nelas, fazendo com que sejam afetadas mais rapidamente pela bebida.

O tempo que o álcool leva para ser eliminado do organismo depende tanto da pessoa quando da quantidade de álcool ingerida de uma vez. De acordo com Salim, quantidades grandes podem levar de 12 a 16 horas para serem processadas. "Não adianta dormir e achar que no dia seguinte você vai estar bem e poder dirigir", afirma o médico.

Tolerância


Quando uma pessoa consome álcool com frequência, pode desenvolver tolerância a essa substância. Isso significa que uma quantidade cada vez maior da bebida será necessária para que a pessoa atinja os mesmos efeitos de antes.

"Com o tempo, como o álcool está sempre atuando no sistema Gaba, o sistema nervoso responde diminuindo o número de receptores, então mais álcool se torna necessário para produzir a mesma reação", explica Rosana.

Outra explicação possível para o fenômeno é o fato de que, com o consumo frequente de bebidas alcóolicas, o organismo aumenta a atividade de uma terceira enzima também capaz de metabolizar a substância, fazendo com que ela seja absorvida mais rapidamente. Como nesses casos o efeito do álcool acaba mais rápido, a pessoa sente necessidade de beber mais.

Desidratação


Sentir muita sede e dor de cabeça também é comum durante uma ressaca. São sintomas da desidratação. Ela ocorre, em primeiro lugar, porque raramente as pessoas se lembram de ingerir água junto com as bebidas alcóolicas.

De acordo com Paulo Olzon, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o álcool inibe o hormônio antidiurético, que impede o rim de eliminar muita água. "Mesmo consumindo bebidas que têm um pouco de água, o álcool acaba fazendo com que você elimine mais", explica. [Veja]
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