Como o nosso cérebro sabe onde estamos? Como podemos navegar de um lugar para outro? Estas são questões que têm atormentado as mentes de filósofos e cientistas há centenas de anos.
Tanto que os três cientistas que ajudaram a desvendar estes mistérios acabam de ganhar um dos prêmios mais prestigiados do mundo para a realização intelectual: o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. [Lista: Prémio Nobel da Medicina]
O neurocientista britânico-americano John O'Keefe, da University College London, foi o primeiro dos três a começar a identificar os componentes do sistema de GPS interno do nosso cérebro.
Em 1971, depois de examinar os cérebros de ratos, descobriu um conjunto de células localizadas em uma região chamada hipocampo, que sempre se ativava quando o animal estava em um lugar particular.
Ele então descobriu que outro grupo de neurônios começaram a disparar quando o rato entrou em uma área diferente. Ele então foi capaz de demonstrar que essas células, que ele apelidou de "células lugar", não registravam somente a informação visual, mas construíam um mapa da área.
Essa idéia foi inicialmente mal recebida pela comunidade científica, e muitos acreditavam que ele estava negligenciando outros sentidos importantes, como o cheiro. As seguintes peças do puzzle foram revelados três décadas mais tarde por um casal norueguês, May-Britt e Edvard Moser.
O casal tem vindo a trabalhar na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim. A dupla chegou a trabalhar durante um curto período de pesquisa com O'Keefe, em 1995, logo após se formarem, onde aprenderam como tirar gravações elétricas das células lugar.
A dupla mais tarde identificou um conjunto diferente de células cerebrais localizadas no córtex entorrinal, que cunharam como "células da grade", que geram um sistema de coordenadas, um pouco como as linhas de longitude e latitude.
Assim como as células lugar, essas células se ativavam de cada vez que um rato ia até um determinado local, mas cada célula tem vários locais de queima que formam uma grade hexagonal bizarramente precisa.
Estas células particulares permitem que o animal possa navegar e tenha um posicionamento preciso. Trabalhos mais recentes mostraram que estes dois tipos de células do cérebro não são exclusivos de ratos e existem também em seres humanos.
Por exemplo, os cérebros dos pacientes com Alzheimer apresentam uma perda de células, tanto no hipocampo como no córtex entorrinal, sendo comum para quem sofre perder-se e deixar de reconhecer ambientes familiares.
"A descoberta do sistema de posicionamento do cérebro representa uma mudança de paradigma em nossa compreensão de como grupos de células especializadas trabalham em conjunto para executar funções cognitivas superiores", disse o comitê do Nobel.
"Ele abriu novos caminhos para a compreensão de outros processos cognitivos, como memória, pensamento e planejamento", acrescentou o comitê. [iflscience]