Os muitos casos documentados de delírios estranhos e síndromes neurológicas podem oferecer uma janela para o quão bizarro o cérebro pode ser.
Pode parecer que as alucinações são imagens aleatórias que aparecem em alguns indivíduos, ou que os delírios são pensamentos que surgem sem propósito. [10 formas estranhas que o cérebro usa para o enganar]
No entanto, em alguns casos, uma via específica do cérebro pode criar uma determinada imagem, ou ilusão, e as pessoas diferentes podem ter a mesma alucinação. [15 Fatos bizarros sobre o cérebro]
Nas últimas décadas, com os avanços da ciência do cérebro, os pesquisadores começaram a desvendar as causas de algumas dessas condições, enquanto outras permaneceram um mistério.
Aqui está uma visão de sete alucinações bizarras, que mostram que tudo é possível quando o cérebro foge da realidade.
1. Síndrome da Alice no País das Maravilhas
Esta síndrome neurológica caracterizada por bizarras percepções distorcidas do tempo e espaço, semelhante ao que Alice experimentou no conto de Lewis Carroll "Alice no País das Maravilhas".
Pacientes com a síndrome da Alice no País das Maravilhas descrevem ver objetos ou partes dos seus corpos como menores ou maiores do que os seus tamanhos reais, ou numa forma alterada. Estes indivíduos também podem perceber o tempo de forma diferente.
A síndrome rara parece ser causada por infecções virais, epilepsia, dores de cabeça, enxaqueca e tumores cerebrais. Estudos recentes têm sugerido que a actividade anormal em partes do córtex visual que tratam a informação sobre a forma e tamanho dos objectos pode causar as alucinações.
Também foi sugerido que o próprio Carroll experimentou a condição durante uma enxaqueca e usou a experiência como inspiração para escrever o conto do estranho sonho de Alice no País das Maravilhas.
Psiquiatra Inglês John Todd foi o primeiro a descrever a condição num artigo publicado no Canadian Medical Association Journal, em 1955, e é por isso que a condição também é chamada de síndrome de Todd.
No entanto, uma referência anterior à condição aparece num artigo de 1952 do neurologista americano Caro Lippman. O médico descreve um paciente que relatara sentir curto e largo enquanto andava, e referenciava o conto da Alice para explicar as suas ilusões.
2. Síndrome do Cadáver Andante
Esta ilusão, também chamada de síndrome de Cotard, é uma doença mental rara em que os pacientes acreditam estar mortos, a morrer ou terem perdido os seus órgãos internos. O neurologista francês Jules Cotard descreveu a doença em 1880, numa mulher depressiva com sintomas de psicose.
A paciente acreditava que não tinha cérebro ou intestinos, e não tinha necessidade de comer. Ela acabou por morrer de fome. Outros casos de síndrome de Cotard têm sido relatados em pessoas com uma série de problemas psiquiátricos e neurológicos, incluindo a esquizofrenia, traumatismo crânio-encefálico e esclerose múltipla.
3. Síndrome de Charles Bonnet
As pessoas que perderam a visão podem desenvolver síndrome de Charles Bonnet, que envolve ter vívidas alucinações complexas e visuais de coisas que não existem. As pessoas com esta síndrome geralmente alucinam com rostos de pessoas, desenhos animados, padrões coloridos e objetos.
Pensa-se a condição ocorre porque o sistema visual do cérebro já não está a receber informação visual do olho ou parte da retina, e começa a fazer as suas próprias imagens. Esta síndrome ocorre entre 10 e 40% dos adultos mais velhos que têm perda significativa da visão.
4. Licantropia clínica
Nesta condição psiquiátrica extremamente rara, os pacientes acreditam que estão a transformar-se em lobos ou outros animais. Eles podem perceber o seu próprio corpo de maneira diferente, e insistem que estão a crescer peles, dentes afiados e garras de lobo.
Casos também foram relatados de pessoas com crenças delirantes sobre transformarem-se em cães, porcos, sapos e cobras. A condição geralmente ocorre em combinação com um outro transtorno, tal como esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão grave.
5. Ilusão de Capgras
Os pacientes com ilusão de Capgras acreditam que um impostor substituiu uma pessoa próxima, como um amigo ou cônjuge. A ilusão tem sido relatada em pacientes com esquizofrenia, doença de Alzheimer, lesões, demência e Parkinson.
Um estudo de imagens cerebrais sugeriu que a condição pode envolver atividade neural reduzida no sistema cerebral que processa informações sobre rostos e respostas emocionais.
6. Síndrome de Otelo
Nomeado em honra ao personagem de Shakespeare, o síndrome de Otelo envolve a crença paranóica de que o parceiro está a enganar o paciente. As pessoas com esta condição experienciam fortes pensamentos obsessivos e podem mostrar agressividade e violência.
Num recente relatório do caso, os médicos descreveram um homem casado de 46 anos de idade no Burkina Faso, que teve um AVC que o deixou incapaz de se comunicar e paralisado em metade de seu corpo.
O paciente recuperou gradualmente da sua paralisia e problemas de fala, mas desenvolveu um ciúme delirante persistente que chegaram a envolver agressões contra a sua esposa, acusando-a de o enganar com um homem não identificado.
7. Síndrome de Ekbom
Pacientes com síndrome de Ekbom acreditam fortemente que eles estão infestados de parasitas que estão rastejando sob a sua pele. Pacientes relatam sensações de coceira e mordidas, e às vezes, num esforço para se livrarem dos patógenos, podem machucar-se, resultando em feridas e infecções reais.
Não se sabe o que causa estes delírios, mas estudos têm relacionado a condição com mudanças estruturais no cérebro e alguns pacientes melhoraram quando foram tratados com medicamentos antipsicóticos. [Livescience]