Um novo tipo de superbactéria altamente resistente a fármacos, de nome Staphylococcus aureus (MRSA) causou recentemente uma infecção sanguínea fatal num paciente brasileiro, de acordo com um novo relatório.
O homem de 35 anos de idade, que estava com a saúde debilitada e tinha estado no hospital durante um longo período de tempo, estava infectado com uma cepa de MRSA.
Esta nova cepa desenvolveu resistência - durante a sua permanência no hospital - ao poderoso antibiótico vancomicina, que é amplamente utilizado para tratar esta infecção.
Os pesquisadores descobriram que, ao contrário de superbactérias anteriores que foram associados aos hospitais, estas bactérias estafilococos (VRSA) resistentes à vancomicina estão geneticamente relacionadas com uma cepa MRSA que tem circulado nos EUA e no norte da América do Sul, de acordo com o estudo, publicado hoje (17 de abril no New England Journal of Medicine.
"Este erro específico é geneticamente diferente de todos os outros que foram descritos antes, e pertence a um clone que tem sido descrito como causador de infecções na comunidade, e não no hospital", disse o pesquisador Cesar Arias, da Universidade do Texas.
Estes resultados, no caso do paciente brasileiro "levantam preocupações que este contaminante particularmente resistente possa realmente disseminar-se agora muito mais facilmente do que se pensava", acrescentou. [7 Doenças Infecciosas devastadoras]
Por que o caso foi único?
MRSA é uma das causas mais comuns de infecções em todo o mundo. Ela pode causar uma variedade de infecções, que vão desde uma simples fervura de pele a uma infecção que come carne desagradável e que pode ser fatal.
Estudos mostram que cerca de uma em cada três pessoas carregam bactérias estafilococos no seu nariz, mas, geralmente, não causam qualquer doença. Duas em cada 100 pessoas são portadoras de MRSA, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
O fármaco mais barato e comummente usado para tratar uma infecção por MRSA é o antibiótico vancomicina. No entanto, em 2002, uma infecção que era resistente à vancomicina foi relatada, e cerca de mais 10 casos foram documentados, na maior parte nos Estados Unidos.
Mas todos esses casos relatados foram infecções de pele. A infecção do homem brasileiro foi muito mais grave. "Esta é a primeira vez que causou uma infecção agressiva na corrente sanguínea, mostrando que a aquisição de resistência à vancomicina não torna as bactérias menos capazes de invadir o sangue", disse Arias.
Como isso aconteceu?
Os pesquisadores descobriram que no paciente brasileiro, a MRSA provavelmente tornou-se resistente à vancomicina durante o tempo que o paciente estava a ser tratado no hospital com antibióticos, o que sugere que ele não trouxe a bactéria do exterior.
Para se tornarem resistentes à vancomicina, as bactérias estafilococos precisam de um novo pedaço de DNA transferido a partir de outro tipo de bactéria que já é resistente. Estudos anteriores descobriram que os genes de resistência à vancomicina vêm de outra bactéria chamada Enterococcus, que geralmente afeta pessoas muito doentes.
Estes genes podem ser transferidos entre as bactérias muito facilmente tanto no laboratório como no corpo do paciente. "As bactérias têm esses pedaços de DNA que podem mover-se de uma para outra", disse Arias.
Nenhum lugar é longe demais
Não há dados suficientes para que os cientistas saibam exatamente como o MRSA é comummente encontrada na população brasileira, ou se outros casos de resistência à vancomicina aconteceram. Mas se a superbactéria resistente à vancomicina sair, não fica confinada a uma região ou país. [Os 5 mais assustadores surtos de doenças do passado]
Há outros medicamentos disponíveis para o tratamento de MRSA que se tornaram resistentes à vancomicina. No entanto, todas as alternativas são muito mais caras do que a vancomicina, e não estão tão facilmente disponíveis, por isso pouco se sabe sobre eles. [Livescience]