Pela primeira vez, os cientistas descobriram um planeta alienígena do tamanho da Terra na zona habitável da sua estrela-mãe, um primo da Terra, que pode ter água líquida e condições adequadas à vida.
O planeta recém-descoberto, chamado de Kepler-186F, foi visto pela primeira vez pelo telescópio espacial Kepler, da NASA e orbita uma estrela anã vermelha a cerca de 490 anos-luz da Terra. [7 maiores descobertas de planetas feitas pelo Kepler]
Enquanto a estrela hospedeira é mais escura do que o Sol da Terra e o planeta é ligeiramente maior que a Terra, o posicionamento do mundo juntamente com o seu tamanho sugere que Kepler-186F pode ter água na sua superfície, dizem os cientistas.
"Uma das coisas que temos procurado é talvez um gémeo da Terra, que é um planeta do tamanho da Terra na zona habitável de uma estrela como o sol", disse Tom Barclay, cientista no Kepler e co-autor da nova pesquisa.
"O Kepler-186F é um planeta do tamanho da Terra na zona habitável de uma estrela mais fria. Assim, apesar de não ser um gémeo da Terra, é talvez um primo. Ele tem características semelhantes, mas um pai diferente" [9 Planetas que poderiam hospedar vida extraterrestre]
Planeta potencialmente habitável
Os cientistas pensam que Kepler-186F - o mais externo dos cinco planetas encontrados na órbita da estrela Kepler-186 - órbita a uma distância de 52.4 milhões de quilómetros, estando teoricamente dentro da zona habitável de uma anã vermelha.
A Terra orbita o Sol a uma distância média de cerca de 150 milhões de km, mas o sol é maior e mais brilhante do que a estrela Kepler-186, o que significa que zona habitável do Sol começa mais longe da estrela em comparação com Kepler-186.
"Este é o primeiro planeta do tamanho da Terra definitivamente encontrado na zona habitável em torno de outra estrela", afirma Elisa Quintana, do Instituto SETI e do Centro de Pesquisa Ames da NASA, e principal autora de um novo estudo a detalhar as descobertas.
Outros planetas de vários tamanhos foram encontrados em zonas habitáveis de estrelas. No entanto, Kepler-186F é o primeiro planeta alienígena tão perto da Terra em tamanho a orbitar essa área num sistema extra-solar que pode suportar vida, de acordo com cientistas de exoplanetas.
Uma descoberta histórica
Visão artística da superfície de Kepler-186F |
"Este é o melhor caso de um planeta possivelmente habitável encontrado. Os resultados são absolutamente sólidos. O próprio planeta pode não ser habitado, mas eu apostaria a minha casa nele. Em qualquer dos casos, é uma jóia".
As medidas do planeta recém-descoberto são de cerca de 1,1 raios terrestres, tornando-o um pouco maior do que a Terra, mas os pesquisadores ainda pensam que o mundo alienígena pode ser rochoso como a Terra.
Os pesquisadores ainda não tem certeza da constituição da atmosfera de Kepler-186F, sendo um elemento-chave que poderia ajudar os cientistas a entender se o planeta é hospitaleiro para a vida ou não.
"O que nós aprendemos, só nos últimos anos, é que há uma transição definitiva, que ocorre em torno de cerca de 1,5 raios terrestres", disse Quintana em comunicado.
"O que acontece lá é que para raios entre 1,5 e 2 raios terrestres, o planeta torna-se grande o suficiente e começa a acumular hidrogénio muito grosso e uma atmosfera de hélio, sendo que começa a parecer-se com os gigantes gasosos do nosso sistema solar, em vez de qualquer outra coisa que vemos como terrestre", acrescentou.
A borda de habitabilidade
Kepler-186F realmente está na borda da zona habitável da estrela Kepler-186, o que significa que a água líquida na superfície do planeta poderia congelar, de acordo com o co-autor Stephen Kane, da San Francisco State University.
Devido à sua posição na parte exterior da zona habitável, o tamanho maior do planeta poderia realmente ajudar a manter a água líquida, acrescentou Kane em comunicado. Uma vez que é um pouco maior do que a Terra, Kepler-186F poderia ter uma atmosfera mais espessa, que isolasse o planeta e mantivesse a sua água na forma líquida, acrescentou.
"Kepler-186F gira em torno da sua estrela a mais de 130 dias, mas porque a sua estrela tem uma massa menor do que a do nosso Sol, o planeta orbita um numa zona semelhante à de Mercúrio no nosso sistema solar", disse Barclay.
"Está na ponta mais fria da zona habitável. Ele ainda está bem dentro dela, mas recebe menos energia que a Terra recebe. Então, se você estiver nesse planeta, a estrela poderá parece um pouco fraca".
Caça a exoplanetas no futuro
Kepler-186F pode ser muito fraco para estudos de acompanhamento que sondem a atmosfera do planeta. O Telescópio Espacial James Webb da NASA - sucessor do Hubble, com previsão de lançamento para o espaço em 2018 - está projetado para fotografar planetas em torno de estrelas relativamente próximas; no entanto, o sistema Kepler-186 pode estar demasiado longe para o poderoso telescópio investigar, disse Barclay.
Cientistas usando o telescópio Kepler descobriram Kepler-186F usando o método de trânsito: Quando o planeta passa na face da sua estrela do ponto de vista do telescópio Kepler é registada uma ligeira quebra no brilho da estrela, permitindo aos pesquisadores aprender mais sobre o próprio planeta.
O telescópio Kepler sofreu uma grande avaria no ano passado e não está a funcionar da mesma forma, mas os cientistas ainda estão a estudar os dados da nave espacial em busca de novos mundos alienígenas.
"Acho que é simplesmente incrível que vivemos numa época em que encontrar planetas potencialmente habitáveis é comum, e o método para encontrá-los é padronizado", disso a caçadora de exoplanetas e astrofísica no MIT, Sara Seager, que esteve envolvida na pesquisa. A nova pesquisa foi publicada online hoje (17 de abril) na revista Science. [Space]