A descoberta de manchas distintas de células cerebrais alteradas em crianças com autismo sugere que a condição começa antes do nascimento.
Especialmente durante as fases de desenvolvimento do cérebro no segundo e terceiro trimestre de gravidez.
Num estudo do tecido cerebral post-mortem, pesquisadores examinaram amostras doadas de 11 crianças com autismo e 11 crianças sem a condição com idades entre 2 e 16 anos.
Os pesquisadores usaram técnicas especiais para detectar e visualizar tipos específicos de neurónios na camada exterior do cérebro, o córtex.
Eles encontraram manchas densas no córtex que contêm neurónios com forma irregular que residem nas camadas corticais erradas. Essas manchas tinham entre 5 e 7 milímetros de comprimento e foram encontradas no córtex frontal e temporal de 10 das 11 crianças com autismo.
Por outro lado, apenas uma das 11 crianças não afetadas pelo autismo apresentavam esse padrão, de acordo com o estudo publicado a 26 de Março no New England Journal of Medicine. [15 fatos bizarros sobre o cérebro]
"Essas manchas não são como uma lesão ou perda de células. As células estão lá, mas não se tornaram no que deveriam, na camada onde deveriam estar", disse o pesquisador Eric Courchesne, professor da neurociência na Universidade da Califórnia.
"As manchas foram encontradas no córtex frontal e temporal, áreas que são importantes para a interação social e linguagem, mas não no córtex occipital, que é uma área de manipulação do processamento visual, muito boa no autismo", disse Courchesne.
No útero
Os achados apontam para uma interrupção no desenvolvimento de camadas corticais, que acontece durante o segundo e terceiro trimestre de gravidez. O córtex humano tem seis camadas e, em cada camada existem tipos específicos de células que residem nas suas camadas designadas.
Estas células têm nomes genéticos específicas, ou assinaturas. Usando marcadores genéticos específicos das células, os pesquisadores podem codificá-las por cor. O resultado é uma imagem colorida de uma fatia do córtex que se assemelha a um arco-íris dobrável, como se vê na imagem acima.
No estudo, os pesquisadores descobriram pequenas secções onde a coloração parecia confusa, mostrando que tipos de células certos não são encontrados nos seus lugares certos. Além disso, essas células não se tinham tornado totalmente no que deveriam ser.
Pesquisas anteriores em fetos humanos mostraram que as camadas corticais desenvolvem-se e tornam-se distintas entre as 19 e 30 semanas de gravidez. A perturbação grave desse estágio de desenvolvimento pode resultar em distúrbios cerebrais.
Ponta do iceberg
Os pesquisadores já haviam descoberto que as crianças com autismo tinham 67% mais células cerebrais, o que também aponta para o segundo trimestre da gravidez, quando as células do cérebro são geradas, disse Courchesne.
Dois estudos genéticos relataram anteriormente vários genes candidatos que podem estar envolvidos no autismo, e que também estão ligados ao desenvolvimento de células nas camadas corticais frontais e temporais.
Não é claro o que pode ter afetado o desenvolvimento normal das camadas corticais, mas é provável que uma combinação de fatores genéticos e no interior do útero possam afetar. [Autismo pode estar ligado a anomalias na placenta]
"Nós não sabemos com certeza. Pode ser que a mãe tenha sido exposta a vírus, bactérias, toxinas, ou stress. Essas são possibilidades que poderiam interagir com a genética", disse Courchesne. [Livescience]