Ficar no escuro pode impulsionar a audição

Passar uma semana no escuro pode aumentar a capacidade de ouvir, pelo menos em ratos, sugere um novo estudo.

A pesquisa, publicada a 5 de fevereiro na revista Neuron, mostrou que ratos que viviam na escuridão total durante uma semana desenvolviam conexões mais fortes entre os neurónios na parte do cérebro que processa sons.

"Mesmo em adultos, quando você realmente perde a visão por alguns dias, você pode melhorar o processamento auditivo", disse o co-autor Hey-Kyoung Lee, neurocientista da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.

Os novos resultados sugerem que a privação sensorial pode ser um caminho viável para treinar adultos com deficiência auditiva para melhor processar sons provenientes de implantes cocleares, disseram os pesquisadores.

Muitos estudos descobriram que as pessoas que nascem cegas têm maior audição e podem até mesmo navegar usando uma espécie de ecolocalização. Mas ainda não é claro como este super sentido se desenvolve.

Para descobrir, Lee e os seus colegas colocaram ratos a viver em total escuridão durante pelo menos uma semana. Em seguida, os pesquisadores colocaram os animais de volta na luz, e testaram a sua resposta ao som.

"Depois de colocar os animais no escuro por cerca de uma semana, os neurónios na parte auditiva do cérebro começam a processar melhor o som", disse Lee. "Eles podem responder a sons muito mais suaves e fracos, e ter uma melhor noção do campo sonoro", acrescentou.

Eletrodos colocados no córtex auditivo dos ratos, que processa o som, também mostraram as conexões mais fortes entre os neurónios. Embora os resultados sejam referentes a ratos, o mesmo processo pode estar a funcionar em seres humanos, e pode explicar porque as pessoas cegas têm uma audição mais forte.

Ainda é muito cedo para afirmar que passar tempo prolongado no escuro pode dar às pessoas uma melhor audição e, em caso afirmativo, quanto tempo se deveria passar no escuro. Mas, se a privação sensorial realmente funcionar, pode fornecer uma maneira de ajudar os adultos com perda auditiva a recuperar esse sentido.

Por exemplo, implantes cocleares, que são dispositivos que convertem o som em sinais enviados diretamente ao cérebro, não funcionam tão bem nas pessoas mais velhas, cujos cérebros são menos mutável do que os das crianças.

Os resultados são interessantes porque as melhorias de audição foram vistas até mesmo em animais adultos. Ainda assim, é muito cedo para dizer se a privação sensorial pode ajudar os humanos a recuperar a audição. [Livescience]