O famoso astrofísico Stephen Hawking abalou o mundo da ciência com o seu mais recente estudo sobre a natureza básica dos buracos negros, mas é a sua ideia revolucionária? Alguns cientistas não estão convencidos.
O novo estudo de Hawking foi publicado a 22 de janeiro na revista científica arXiv.org e ainda não foi submetido a um processo de investigação de revisão por pares típico para trabalhos académicos.
Ele tenta resolver um paradoxo que envolve os blocos de construção básicos de como o universo funciona. "O trabalho de Hawking é curto e não tem muitos detalhes, por isso a sua justificação precisa não é clara", afirma José Polchinski do Instituto Kavli. [Os 10 buracos negros mais estranhos do Universo]
As teorias atuais sobre buracos negros colapsa naquilo que é conhecido como "paradoxo firewall". Esse paradoxo coloca a teoria da relatividade geral contra a teoria quântica de Einstein no contexto de um buraco negro.
O paradoxo, desenvolvido por Polchinski e colegas acerca de dois anos, é baseado numa experiência de pensamento sobre que aconteceria a um astronauta se caísse num buraco negro. De acordo com a teoria de Einstein, simplesmente flutuaria através de um ponto conhecido como horizonte de eventos.
O horizonte de eventos refere-se ao ponto em que não há retorno e de onde nem mesmo a luz pode escapar do buraco negro. O astronauta não iria perceber que estaria nesse ponto do buraco negro. O buraco negro, então, puxaria o astronauta antes de o esmagar no seu núcleo denso.
Por outro lado na mecânica quântica, a teoria física que explica o comportamento das partículas pequenas, a teoria sugere que o astronauta não iria pacificamente passar pelo horizonte de eventos, mas em vez disso, encontraria uma "firewall" dentro do buraco negro que destruiria o viajante.
Em 1974, Stephen Hawking descobriu que a matéria e a energia podem escapar de um buraco negro através do que hoje é conhecido como radiação de Hawking. No entanto, ele afirmou que a radiação seria tão mexida que os cientistas nunca poderia entender o que caiu no buraco negro.
Mas tal facto viola a peça básica da teoria quântica, a ideia de que a informação não pode ser destruída. Em 2004, Hawking admitiu que estava errado sobre a perda de informações. No entanto, ninguém sabe ao certo como a informação poderia escapar de um buraco negro.
Informação a irradiar para fora de um buraco negro não é compatível com a relatividade geral, e a destruição de informações não é possível dentro dos limites da teoria quântica. Então, quem está certo?
O estudo de duas páginas de Hawking tenta resolver a questão ao acabar com os horizontes de eventos e substituí-los com a ideia de horizontes aparentes. "A ausência de horizontes de eventos significa que não existem buracos negros - no sentido de regimes onde a luz não pode escapar para o infinito", escreveu Hawking.
"Há, no entanto, horizontes aparentes, que persistem durante um período de tempo", acrescentou o astrofísico. Estes horizontes aparente mudam com o comportamento das partículas quânticas dentro do buraco negro. Esta teoria sugere, então, que a informação pode irradiar a partir do buraco negro.
No entanto, essa ideia não parece resolver o paradoxo firewall, afirma Raphael Bousso, físico teórico da Universidade da Califórnia. Don Page, físico da Universidade de Alberta, no Canadá, concorda: "Eu não acho que a eliminação horizontes de eventos por si só resolva o problema de firewall, que é um problema subtil".
"A ideia de que um buraco negro não tem realmente um horizonte de eventos remonta há mais de um terço de século e eu não ficaria surpreso se alguém pudesse rastreá-lo até mesmo muitos anos antes", acrescentou Page.