Os seres humanos têm-se enganando a si mesmos há milhares de anos pensando que são mais espertos do que o resto do reino animal, apesar da crescente evidência em contrário, de acordo com especialistas em biologia evolutiva da Universidade de Adelaide, na Austrália.
"Por milénios, todos os tipos de autoridades - da religião aos eminentes estudiosos - foram repetindo a mesma ideia ad nauseam, que os seres humanos são excepcionais, em virtude de que eles são os mais inteligentes do reino animal", afirma Arthur Saniotis, pesquisador dessa universidade.
"No entanto, a ciência diz-nos que os animais podem ter faculdades cognitivas que são superiores aos seres humanos", acrescentou.
Ele diz que a crença de que os seres humanos têm inteligência superior remonta à Revolução Agrícola à cerca de 10.000 anos, quando as pessoas começaram a produzir cereais e domesticar animais.
Isto ganhou impulso com o desenvolvimento da religião organizada, que via os seres humanos como as principais espécies da criação.
"A crença de superioridade cognitiva humana tornou-se enraizada na filosofia humana e nas ciências. Mesmo Aristóteles, provavelmente o mais influente de todos os pensadores, argumentou que os seres humanos eram superiores aos outros animais, devido à nossa capacidade exclusiva para raciocinar", afirma Saniotis.
Enquanto os direitos dos animais começaram a aumentar em importância durante o século 19, a Revolução Industrial antecipou quaisquer ganhos obtidos com a consciência de outros animais.
Maciej Henneberg, professor de anatomia antropológica e comparativa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Adelaide, afirma que os animais muitas vezes possuem diferentes habilidades que são mal compreendidas pelos humanos.
"O fato de que eles não podem entender-nos, enquanto nós não os entendemos, não significa que as nossas inteligências estejam em níveis diferentes, elas são apenas de diferentes tipos. Quando um estrangeiro tenta comunicar-se connosco usando uma versão imperfeita da nossa língua, a nossa impressão é que eles não são muito inteligentes. Mas a realidade é bem diferente", diz o professor Henneberg.
"Os animais oferecem diferentes tipos de inteligências que têm sido sub-avaliados devido à fixação dos seres humanos na linguagem e tecnologia. Estes incluem a inteligência social e cinestésica", acrescentou.
"Alguns mamíferos, como os gibões, podem produzir um grande número de sons variados - Mais de 20 sons diferentes, com claramente diferentes significados que permitem a esses primatas arborícolas comunicar-se através da floresta tropical", afirmou Henneberg.
"Muitos quadrúpedes deixam marcas olfativas complexas no seu meio ambiente, e alguns, como os coalas, têm glândulas peitorais especiais para marcação de cheiro. Os seres humanos, com o seu sentido limitado de cheiro, não pode sequer avaliar a complexidade das mensagens contidas nas marcas olfativas, que podem ser tão ricas em informações como o mundo visual", diz ele.
Para Henneberg, os animais domésticos também nos dão uma visão das habilidades mentais dos mamíferos e aves. "Eles podem até mesmo comunicar-nos as suas exigências e levar-nos a fazer coisas que eles querem. O mundo animal é muito mais complexo do que o crédito que lhe damos". [Sciencealert]