Galáxias gigantes como a Via Láctea e sua vizinha Andrómeda originaram há muito tempo, e através da colisão com galáxias menores, foram aumentando de tamanho.
Observar este processo em ação, no entanto, é difícil uma vez que requer a detecção de colisões entre galáxias anãs próximas no limite do universo observável, onde podemos ver as galáxias como elas eram há mais de 10 mil milhões de anos.
Agora, astrônomos descobriram evidências de uma colisão similar muito próxima – a meros 2,6 milhões de anos-luz da Terra – numa pequena galáxia denominada IC 10, o que lhes permite assistir a uma colisão entre galáxias-anãs com detalhes nunca antes vistos.
David Nidever, astrónomo da Universidade de Michigan, considera IC 10 uma das galáxias mais intrigantes do universo. “É a única galáxia starburst no nosso grupo local de galáxias”, diz o astrónomo.
Starburst é uma galáxia que gera estrelas a um ritmo muito acelerado. A IC 10 emite apenas uma pequena percentagem da luz que a Via Láctea gera. Infelizmente, os astrónomos levarão a maior parte deste século para revelar a natureza de nosso vizinha incomum, porque nossa galáxia tende a bloquear a sua visão.
A IC 10 localiza-se atrás da poeira da Via Láctea, no norte da constelação Cassiopéia. No seu livro de 1936, O Reino da Nebulosa, o astrónomo Edwin Hubble sugere que a IC 10 possa pertencer ao nosso grupo local, um encontro de galáxias próximas, que agora englobam mais de seis dúzias de membros conhecidos.
Mas durante décadas, astrónomos falharam em definir a distância da galáxia; algumas estimativas eram até 4 vezes maiores que outras. Finalmente, nos anos 90, astrónomos detectaram a Cefeida da galáxia, um parâmetro de ouro para medir as distâncias na galáxia, e provou que Hubble estava certo.
Cefeida é uma estrela amarela supergigante que periodicamente brilha e obscurece quando se expande e se contrai. Quanto mais tempo uma Cefeida leva a pulsar, maior e mais luminosa ela é; portanto, o período de pulsação revela a luminosidade da estrela, e comparando esta luminosidade com o aparente brilho da Cefeida, é possível determinar a distância da estrela – e da galáxia hospedeira.
Enquanto isso, outros astrónomos estão a encontrar um surpreendente número de supergigantes azuis de vida curta na IC 10, o que indica que a galáxia está a passar por uma starburst. Mas a galáxia possui algumas supergigantes vermelhas – estrelas que levam algum tempo para surgir.
A sua escassez significa que o starburst começou há menos de 10 milhões de anos. Tais starbursts são um mistério. “Não está claro porque elas, de repente, têm essa grande explosão de formação de estrelas”, diz Nidever.
Agora ele pode ter encontrado o segredo do sucesso da produção de estrelas de IC 10: uma colisão com outra galáxia menor. “Na verdade foi uma descoberta casual”, diz Nidever. Ele estava a usar o Telescópio Green Bank, na Virgínia Ocidental, para estudar as ondas de rádio vindas do gás hidrogénio emitido pela Grande e Pequena Nuvem de Magalhães, as duas galáxias mais brilhantes que orbitam a Via Láctea.
A IC 10 localiza-se na parte do céu que estava a ser observada, e ele detectou um rasto de gás hidrogénio que se estende por pelo menos 60 mil anos-luz da galáxia, pesando cerca de 1 milhão de vezes mais do que o Sol.
Como a equipa de Nidever irá relatar numa edição futura do Astrophysical Journal Letters, o rastro de gás surgiu de uma galáxia companheira, que mergulhou na sua vizinha. Nuvens de gás numa galáxia colidem umas nas outras, comprimindo o gás até originarem uma onda de novas estrelas.
“Isto é o que todos gostariam que fosse a resposta, porque é muito simples”, diz Philip Massey, astrónomo do Observatório Lowell, que estudou a IC 10 durante décadas e chama a nova descoberta de “muito importante”. Mas ele questiona: “Se houvesse uma interação, onde está a galáxia companheira?”.
Para encontrar a galaxia companheira da IC 10, Nidever e seus colegas estão a utilizar telescópios óticos para caçar estrelas no rasto de gás recém-descoberto. Nidever suspeita que a IC 10 e a sua companheira se assemelhem a uma pequena versão das Nuvens de Magalhães, que também são férteis criadoras de estrelas.
Elas orbitam a Via Láctea e provavelmente uma a outra também; a IC 10 orbita a Galáxia de Andrómeda, mas encontra-se a uma distância de Andrómeda superior a quatro vezes a distância que as Nuvens de Magalhães ficam da nossa galáxia. [Scientific American]