Quilómetros abaixo da superfície do mar, enterrado sob o sedimento do fundo marinho, um ecossistema relativamente pouco estudado de bactérias e outros micróbios está repleto de atividade na crosta oceânica da Terra.
Alguns cientistas acreditam que este sistema pode ser o maior reservatório de vida na Terra, mas medições diretas da região são difíceis de alcançar e continuam a ser escassas.
Agora, uma equipe internacional de pesquisadores com base no Laboratório Bigelow de Ciências do Oceano, desenvolveu um novo modelo que dizem oferecer melhores estimativas para a quantidade de oxigénio que esses micróbios podem consumir - uma medida que pode ser usada em estudos futuros para determinar o tamanho desse ecossistema.
"Sabemos que há um vasto reservatório de vida na crosta oceânica, mas se não usarmos medidas para quantificar o seu metabolismo, nunca saberemos o quão vasto é", afirmou Sam Hulme, co-autor do estudo e cientista dos Moss Landing Marine Laboratories.
A equipa coletou novas medições do fundo do mar - a espessa camada de sedimentos que fica abaixo da água do oceano, mas em cima das rochas da crosta terrestre - a fim de inferir o que pode estar a acontecer sob os sedimentos na crosta oceânica.
As suas medições mostraram que os níveis de oxigénio aumentam perto das fronteiras do fundo do mar com a água acima e abaixo da crosta rochosa, mas diminui entre esses dois limites. Isso sugere que o oxigénio viaja para os sedimentos acima e abaixo, mas algum processo consome o oxigénio no interior da secção do sedimento.
Dadas as condições ambientais dentro do sedimento, disseram os pesquisadores, os micróbios são os prováveis culpados por esta queda do oxigénio. As bactérias usam o oxigénio para quebrar os hidratos de carbono em formas utilizáveis de energia.
A equipa usou as medições de oxigénio no fundo do mar para prever o fluxo de oxigénio para dentro e para fora da crosta abaixo do fundo do mar. O modelo sugere que os micróbios na crosta provavelmente consomem quantidades significativas de oxigénio, mas mais trabalho ainda é necessário para determinar o quão grande a comunidade microbiana é.
Se a população microbiana crustal é tão abundante como alguns cientistas pensam, então seria composta por uma parte significativa, mas atualmente negligenciada do ciclo de carbono da Terra, disse Beth Orcutt, do Laboratório Bigelow e co-autora da pesquisa.
Um estudo mais aprofundado destes ecossistemas vai ajudar a esclarecer o seu papel nos ciclos de nutrientes que controlam a abundância da vida na Terra, disse ela. Num sentido mais amplo, os micróbios também podem fornecer uma janela para a primeira evolução da vida na Terra.
A equipe coletou sedimentos ao longo da Dorsal Meso-Atlântica, uma cordilheira submarina que corta a extensão do Oceano Atlântico, a cerca de 4,8 km abaixo da superfície do mar. As amostras foram coletadas em intervalos de 10 metros para torná-las mais fáceis de manusear.
Os resultados detalhados da equipa de investigação foram publicados hoje (27 de setembro) na revista Nature Communications.