Desde o Nilo Ocidental, Ébola, SARS e HIV, a maioria das doenças infecciosas emergentes que afligem os seres humanos de hoje originaram-se noutros animais.
De acordo com uma nova estimativa, existem, pelo menos, 320 mil vírus em mamíferos, por si só, a grande maioria deles aguardando descoberta.
Os cientistas dizem que a recolha de dados sobre agentes patogénicos que se podem esconder na vida selvagem antes de saltar para os seres humanos poderia ajudar a detectar e conter surtos futuros.
"O que sabemos atualmente sobre os vírus é muito inclinado para aqueles que já se espalharam por seres humanos ou animais e surgiram como doenças", afirma o autor do estudo, Simon Anthony, do Centro de Infecção e Imunidade (CII) da Universidade de Columbia.
"Mas o conjunto de todos os vírus de vida selvagem, incluindo muitas ameaças potenciais para os seres humanos, é na verdade muito mais profundo", acrescentou. Os pesquisadores analisaram a estimativa da diversidade de vírus, estudando os vírus transportados por raposas voadoras que vivem nas selvas do Bangladesh.
Estes morcegos são os maiores mamíferos voadores, com uma envergadura de até 1,8 metros. Os investigadores apontaram para as espécies como a fonte do vírus de Nipah, que pode causar febres cerebrais mortais. O vírus apareceu pela primeira vez em humanos na década de 1990, e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, provocou uma dúzia de surtos, todos no Sul da Ásia.
Os pesquisadores retiraram amostras da garganta, bem como fezes e urina de 1897 animais vivos, de aparência saudável capturados e posteriormente libertados. Em laboratório, essas amostras revelaram 55 vírus em nove famílias virais, sendo apenas conhecidos anteriormente cinco deles, descobriu a equipe.
Os pesquisadores estimam que o número total de vírus nos animais foi cerca de 58. Se cada um dos 5.486 mamíferos conhecidos tiverem 58 vírus únicos, haveria cerca de 320 mil vírus no estado selvagem, calcularam Anthony e seus colegas.
Os pesquisadores dizem que estão a planear estudos de acompanhamento numa espécie de primatas do Bangladesh e seis espécies de morcegos no México para descobrir se a diversidade viral de outros animais é realmente comparável com a da raposa voadora.
Os autores do estudo afirmam que o custo de estudar esses vírus seria uma pechincha em comparação com os custos de lidar com uma pandemia mortal. A vigilância, a amostragem e a descoberta de todos os 58 vírus custou 1,2 milhões de dólares, de acordo com os pesquisadores.
Com base nesses números, estima-se que a coleta de evidências de vírus de mamíferos não descritos custaria cerca de 6,3 mil milhões de dólares. O custo desses esforços poderia ser tão baixo quanto 1,4 mil milhões de dólares americanos se os cientistas cortassem os vírus raros fora dessa equação e limitassem a sua pesquisa a 85% da diversidade viral total.
Para efeito de comparação, o surto de SARS, que começou na Ásia, em 2002, foi estimado ter tido um impacto económico de 16 mil milhões de dólares, afirmam os pesquisadores.
"Nós não estamos dizendo que esta empresa iria impedir um surto como SARS", explicou Anthony em comunicado. "No entanto, o que podemos aprender a partir de explorar a diversidade viral global poderia reduzir os surtos, possibilitando uma melhor vigilância e testes de diagnóstico rápidos".
O surto de SARS (ou síndrome respiratória aguda grave) de 2002 foi causado por um coronavírus até então desconhecido. Tal afetou mais de 8.000 pessoas e matou mais de 700, antes de ser contido em 2003.
Posteriormente a pesquisa vinculou a eclosão a animal infetado semelhante ao gato, chamado civeta, que é vendido em mercados da China, mas os cientistas acreditam que a doença pode ter originalmente sido espalhada por morcegos. A nova pesquisa foi detalhada online a 3 de setembro na revista mBio [veja qui o estudo].