Uma mulher que devorou uma caixa de um quilo de bicarbonato de sódio por dia - antes e durante a gravidez - desenvolveu doença muscular e cardíaca grave, de acordo com um relatório do seu caso.
Os médicos levaram uma semana, a partir do momento em que ela foi hospitalizada, para identificar a causa das suas doenças com risco de vida: a condição misteriosa conhecida como pica. A condição envolve o desejo por itens não alimentares, tais como amido de milho, argila, fermento em pó, sujidade ou gelo e é comum durante a gravidez.
The futura mãe de 35 anos, que apareceu no hospital queixando-se de fraqueza e tonturas durante a 37ª semana de gravidez, foi inicialmente diagnosticada com batimento cardíaco irregular e fraqueza muscular nas pernas. Ela também tinha níveis baixos de potássio, um electrólito vital para o correcto funcionamento dos nervos e células musculares, em especial o músculo do coração.
"Os baixos níveis de potássio explicaram porque ela era fraca e o seu batimento cardíaco irregular", disse o Dr. Thomas Myles, co-autor do relatório e professor de obstetrícia, ginecologia e saúde da mulher na Universidade de St. Louis, nos EUA. Mas a próxima pergunta que os médicos precisavam responder era por que motivo os seus níveis de potássio eram baixos.
"Eu já tinha visto um paciente que estava fraco por exagerar na cafeína, então eu pensei em dieta", disse Myles. Ele disse que também está familiarizado com o síndrome de pica e os seus sintomas, mas o paciente não admite quaisquer práticas alimentares incomuns. Os médicos admitiram a mulher no hospital, e quando ela desenvolveu uma frequência cardíaca rápida, transferiram-a para a unidade de cuidados intensivos, tratando-a com fluidos e eletrólitos.
Em seguida, os testes de laboratório encontraram altos níveis sanguíneos de creatina quinase, uma enzima que sinaliza uma condição chamada rabdomiólise, uma divisão de fibra muscular que pode prejudicar os rins. Quando um ecocardiograma mostrou que o ventrículo esquerdo do coração da mulher estava dilatado, os médicos suspeitaram que a mulher também tinha uma doença chamada miocardiopatia periparto.
Essa condição ocorre quando o músculo cardíaco se enfraquece, e é incapaz de bombear o sangue de forma eficiente. Ela afeta um em cada 1.300 a 5.000 nascimentos, e é geralmente diagnosticada durante o último mês de gestação, ou dentro de cinco meses após o parto, de acordo com o National Institutes of Health.
Depois de tratarem a mulher com medicamentos para o coração e uma transfusão de sangue, eles induziram o parto. No seu quinto dia no hospital, ela deu à luz uma saudável bebé. Além disso o tratamento melhorou os seus níveis de creatina quinase, mas seus níveis de potássio permaneceram teimosamente baixos.
Durante a sua permanência no hospital, os médicos e pessoal de enfermagem mantiveram as perguntas sobre hábitos alimentares à mulher. Finalmente, dois dias depois de dar à luz, ela admitiu que tinha comido diariamente bicarbonato de sódio, durante vários anos, como remédio para os soluços. Ela até tinha consumido algum no tempo de estadia no hospital.
"Eu suspeito que ela se sentia um pouco culpada dos seus sintomas serem auto-induzidos", disse Myles. Foi-lhe dito para parar de comer o bicarbonato de sódio, e foi acompanhada de perto para se ter certeza de que ela obedeceu. Após um dia, os seus níveis de potássio voltaram ao normal. Nesse ponto, a mulher começou a ver um cardiologista, e três meses depois, um ecocardiograma mostrou que ainda tinha cardiomiopatia leve.
No entanto, a fraqueza muscular em suas pernas tinha desaparecido. O bicarbonato de sódio desencadeou uma cascata de alterações metabólicas que levaram à sua condição. Assim que a mulher parou o seu hábito de consumo de bicarbonato de sódio o seu tratamento surtiu efeito. O relato de caso é publicado na edição de agosto da revista Obstetrics & Gynecology.
