De suaves choramingas com soluços comoventes até aos gritos, o choro de um bebé pode evocar emoções fortes, e as razões para chorar podem permanecer misteriosas.
Mas agora, uma nova ferramenta para analisar o som do choro de um bebê poderá fornecer pistas para padrões de choro que podem sinalizar problemas de saúde.
O analisador de choro, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Brown, pode perceber pequenas variações nos gritos que um ouvido humano não consegue detectar. Essas variações podem ser usadas para identificar problemas neurológicos ou distúrbios do desenvolvimento, dizem os pesquisadores.
Por exemplo, o sistema pode identificar os problemas que existem em lactentes prematuros, a crescer mais lentamente do que o normal, ou que tenham sido expostos a drogas, afirma Barry Lester, da Universidade Brown, que desenvolveu o analisador de choro.
O analisador de choro consiste num gravador digital de voz padrão para a captura de sons de choro, e um programa de computador que analisa os sons e extrai um conjunto de informações sobre as suas características acústicas.
O sistema divide os gritos em blocos de 10 milissegundos, e mede a altura, ou frequência fundamental - a taxa na qual as cordas vocais vibram. A frequência fundamental média para um bebé normal é de cerca de 300 a 400 Hertz, disse Lester.
Dois gritos podem ter a mesma frequência fundamental, mas ainda soarem diferente por causa das diferenças na forma e tensão do trato vocal. O cérebro modifica a tensão do trato vocal através dos nervos cranianos.
O analisador de choro mede propriedades subtis dos gritos dos bebés que sugerem problemas com o seu cérebro e sistema nervoso. Além da frequência, o sistema pode medir outras características de grito, como o volume, o tempo e a distorção.
Alguns bebés raramente choram porque os seus sistemas nervosos não são reativos o suficiente, disse Lester. Outros choram muito facilmente. Durante os anos 1950 e 60, pesquisadores da Escandinávia notaram que os bebés com certas anomalias produziam gritos anormais.
O melhor exemplo é a síndrome de cri-du-chat, francês para "grito do gato", uma condição genética em que crianças fazem sons de gato agudos. Isso deu aos cientistas a ideia de que o choro do bebé pode indicar transtornos mentais.
Lester esquiva-se de dizer que o analisador de choro pode "detectar" problemas mentais específicos. "Não é como um exame de sangue", disse ele. Em vez disso, ele pode apanhar sinais de alerta de que um bebé pode ter problemas.
Ele também observou que o cérebro de um bebé é muito plástico: o seu desenvolvimento é fortemente moldado pelo ambiente familiar durante os primeiros anos de vida. Funciona como um sinal social que afecta a forma como os pais respondem ao choro, disse Lester.
O analisador de choro, detalhado em junho no Journal of Speech, Language, and Hearing Research, está concluído, mas ainda não foi lançado ao público. Depois de dar os últimos retoques no sistema, Lester e os seus colegas planeiam torná-lo disponível online gratuitamente.
