Alguns médicos recusam a ideia de tentar mudar a personalidade de um paciente, mas um novo estudo sugere que eles já o estão a fazer.
Os resultados mostram que a terapia de conversa ou as medicações psiquiátricas podem mudar a personalidade de pessoas saudáveis e pessoas com distúrbios psicológicos.
Além do mais, as alterações podem ser relativamente rápidas, ocorrendo ao longo de um período de quatro a sete meses, e de longa duração, continuando anos após o tratamento, de acordo com o estudo.
Os profissionais de saúde mental não pensam acerca dos tratamentos psiquiátricos como um meio de mudança de personalidade - eles vêem os tratamentos como uma maneira de mudar o comportamento, diz o pesquisador Brent Roberts, professor de psicologia da Universidade de Illinois, EUA.
Os resultados são provocantes, dizem os pesquisadores, porque durante muito tempo, os psicólogos pensaram que os traços de personalidade eram estáticos. Enquanto algumas pesquisas recentes sugerem que os traços de personalidade podem mudar ao longo do tempo, a maioria tinha assumido que essa mudança era difícil e incremental e não um processo rápido.
Os resultados apresentam uma nova maneira de ver como as terapias psiquiátricas funcionam e levantam a questão de saber se as intervenções devem almejar mais diretamente a personalidade. Os traços de personalidade afetam muitas áreas diferentes da vida - incluindo os relacionamentos e o sucesso escolar e de trabalho, embora as suas consequências muitas vezes passem despercebidas, disse Roberts.
No estudo, Roberts e seus colegas revisaram 144 estudos envolvendo mais de 15.000 pessoas. Os estudos empregavam todos algum tipo de intervenção - como a terapia cognitiva, medicamentos antidepressivos, meditação ou treino cognitivo - e uma avaliação dos traços de personalidade. Mas nenhuma tentou intencionalmente mudar a personalidade.
Houve uma mudança significativa nas personalidades das pessoas que se submeteram a intervenções, em comparação com as pessoas em grupos de controle nos estudos, descobriram os pesquisadores. As maiores mudanças foram observadas em pessoas com distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade. Mas mesmo as pessoas saudáveis tiveram alterações da personalidade, mais notadamente se tomassem a medicação, disse Roberts.
De certa forma, não é de estranhar que estes tratamentos mudem a personalidade, porque há sobreposição entre os traços de personalidade e os transtornos mentais. Por exemplo, muitas das características do traço de neuroticismo podem ser sintomas de depressão, disse Thomas F. Oltmanns, psicólogo da Universidade de Washington.
Os primeiros resultados do estudo de Roberts foram apresentado no mês passado na reunião da Associação para a Ciência Psicológica, em Washington, EUA. O estudo ainda não foi publicado numa revista peer-reviewed.
Os médicos que tratam de condições de saúde física também podem querer pensar mais criticamente sobre o papel da personalidade, disse Oltmanns. De facto, hábitos pouco saudáveis, como fumar, beber, o sedentarismo e os excessos, estão relacionados com traços de personalidade, acrescentou.
Alguns estudos mostram que quando as pessoas param de fumar, passam a fazer mais exercício e perdem mais peso, disse Roberts, indicando que um aspecto da personalidade pode ter mudado e afetado vários comportamentos. Os estudos também sugerem que o ganho de peso está ligado com a mudança da personalidade.
No entanto, antes de os pesquisadores sabem ao certo quanta mudança de personalidade pode melhorar a vida, eles precisam obter a melhor medição de personalidades e comportamentos das pessoas, dizem os especialistas. Alguns estudos sugerem que os problemas com a avaliação da personalidade podem ter levado a uma superestimação da quantidade de personalidade que realmente muda ao longo do tempo.
Saiba mais: Porque as doenças mentais persistem nos humanos
