A dependência do tabaco é determinada por factores fisiológicos e psicológicos complexos. Para além de a nicotina causar dependência física e síndrome de abstinência aquando da cessação tabágica, o uso do tabaco tem sido comprovado em aumentar o stress, a ansiedade e a depressão, bem como aumentar o risco de doenças potencialmente fatais como a doença cardiovascular.
Têm sido feitos vários estudos no sentido de avaliar os riscos de fumar no metabolismo dos lípidos. Em comparação com os não fumadores, os fumadores apresentam níveis mais elevados de triglicéridos associados ao mau-colesterol (VLDL). O risco aterogénico, medido pelos valores de LDL e HDL, é mais elevado em fumadores do que em não fumadores, elevando-se os níveis destas lipoproteínas em 15 a 20% e permanecendo estes valores elevados mesmo após a correcção dos níveis de triglicéridos.
Os riscos do elevado colesterol agravam em 10% a probabilidade já elevada de desenvolver uma doença cardiovascular associada ao tabaco, para além de diabetes tipo 2 e hiperlipidémia.
A cessação tabágica reduz o risco de morbilidade e mortalidade por doença cardiovascular. Apesar de o tabaco não causar hipertensão, está associado ao aumento da tensão arterial em pessoas com hipertensão prévia, aumentando o risco de complicações como a progressão da doença renal. Num estudo feito por Suskin, constatou-se que deixar de fumar tem um benefício igual ou maior que a terapia com medicamentos como os β-bloqueantes e a espironolactona. Em especial nas pessoas com diabetes, fumar aumenta os riscos de doença cardiovascular, bem como o risco de progressão de neuropatia diabética. Fumar aumenta também a resistência à insulina e a dificuldade de controlar a diabetes
Para além dos vários benefícios para a saúde, deixar de fumar e limitar a exposição ao fumo passivo, previne o desenvolvimento e a progressão de doenças cardiovasculares, reduzindo no caso do enfarte do miocárdio a morbilidade e a mortalidade em 36 a 50%.
A adopção de tratamentos farmacológicos está comprovada aumentar a taxa de abstinência a longo prazo. Entre as várias opções disponíveis encontram-se as terapias de substituição de nicotina em pastilhas, inalantes ou adesivos, de venda livre, bem como medicamentos de prescrição como a vareniclina, com uma taxa de sucesso mais elevada. O tratamento com vareniclina tem a duração de 12 semanas e ao contrário dos substitutos de nicotina, impede que esta substância se ligue aos receptores do cérebro, bloqueando os seus efeitos quando se fuma um cigarro. A administração prolongada de vareniclina permite a cessação tabágica, reduzindo as recaídas em fumadores que conseguiram abster-se durante as 12 semanas de tratamento.
Deixar de fumar é a chave para prevenir a doença cardiovascular. Apesar de poucos fumadores estarem motivados para a procura de um tratamento eficaz, a taxa de sucesso é maior em pacientes com doença cardiovascular do que na população geral de fumadores.
Fonte: Clínica 121doc