Ao contrário das mulheres humanas, as fêmeas de ratos e de alguns outros mamíferos podem atrasar o início das suas gestações, e os pesquisadores já identificaram o mecanismo molecular por trás dessa capacidade notável.
O fenómeno, conhecido como diapausa embrionária, é um estado temporário de animação suspensa que ocorre quando as condições ambientais não são favoráveis para a sobrevivência da mãe e do recém-nascido.
Um novo estudo, publicado online a 23 de abril na revista Open Biology, revela os genes que são responsáveis por pausar e retomar uma gravidez. Depois de um óvulo ser fecundado, forma-se um aglomerado de células conhecido como blastocisto, que se implanta na parede do útero da mãe. Mas, durante a diapausa, o blastocisto é impedido de se implantar e preservado num estado inativo até retomar a gravidez. No entanto, exatamente como este processo ocorre era um mistério.
Sudhansu Dey, da Fundação de Pesquisa Infantil de Cincinnati (EUA), e colegas estavam a estudar o processo de implantação do embrião em ratos quando notaram que um gene chamado MSX1 era muito ativo, pouco antes da implantação. Eles começaram a suspeitar que ele podia desempenhar um papel importante na diapausa, disse Dey em entrevista ao LiveScience.
Para investigar mais, Dey e a sua equipa usaram hormonas para induzir atrasos na gravidez de ratos, martas e cangurus. Durante este estado atrasado, os pesquisadores mediram a atividade do gene MSX1 e outros genes relacionados. Então, eles fotografaram o tecido dos animais para ver onde o gene estava ativo. Finalmente, foi testado se estes genes produzia proteínas.
Eles descobriram que os genes MSX eram mais ativos quando as gravidezes eram adiadas, e descobriram que isso era verdade em todos os três animais. Os genes foram primariamente activos nas células epiteliais, o tipo de células que revestem as cavidades do corpo, como o interior do útero. As experiências também confirmaram que estes genes de fato produziam proteínas.
Dey disse que os resultados são muito emocionantes - eles mostram que os genes MSX, que fazem parte de uma antiga família de genes, foram preservados durante a maior parte do tempo evolutivo, e desempenham um papel importante em retardar a gravidez em condições adversas. Dey quer saber se os mesmos genes podem permitir gravidez tardia em outros animais, como o urso polar ou panda gigante.
Em última análise, uma compreensão mais profunda da diapausa pode ter implicações para os seres humanos, disse Dey. "Se mantivermos MSX1 em níveis mais elevados nos humanos, talvez possamos estender a fase receptiva" para a fertilização, disse ele, embora tenha acrescentado que essa prorrogação pode ser de muitos anos de distância.