A visão aguçada dos neandertais pode explicar porque eles não puderam lidar com a mudança ambiental e morreram, apesar de terem o cérebro do mesmo tamanho que os seres humanos modernos, sugere uma nova pesquisa.
Os resultados, publicados a 12 de março na revista Proceedings of the Royal Society B, sugerem que os neandertais desenvolveram enormes regiões visuais nos seus cérebros para compensar os baixos níveis de luz da Europa. Isso, no entanto, reduziu o espaço cerebral disponível para a cognição social.
"Nós temos um cérebro social, enquanto que os neandertais parecem ter um cérebro visual", disse Clive Gamble, arqueólogo da Universidade de Southampton, que não esteve envolvido no estudo. Como resultado, os hominídeos extintos, tinham menores redes sociais e comércio suficiente para quando as condições piorassem. Facto que pode ter causado o seu desaparecimento há cerca de 35.000 anos.
Quão inteligentes os neandertais foram tem sido um debate de longa data. Para Robin Dunbar, co-autor do estudo e psicólogo evolucionista da Universidade de Oxford, o facto de os neandertais terem cérebros enormes aponta para que fossem tão inteligentes quanto nós. Para ajudar a resolver o enigma, Dunbar e seus colegas examinaram 13 fósseis de crânio de Neandertal que datam entre 25.000 e 75.000 anos, comparando-os com 32 esqueletos humanos modernos.
Os pesquisadores notaram que alguns dos fósseis de neandertais tinham órbitas muito maiores e, assim, maiores olhos do que os seres humanos modernos. A equipa concluiu que os neandertais usavam os seus olhos enormes para sobreviver nos níveis mais baixos de luz na Europa, onde a latitude norte significa que menos raios do sol atingem a Terra.
Os seres humanos modernos também tendem a ter os olhos e sistemas visuais um pouco maiores em latitudes mais elevadas do que aqueles que vivem em latitudes mais baixas, onde os níveis de luz são mais elevados. Os pesquisadores supuseram que os neandertais deveriam também ter grandes regiões do cérebro dedicadas ao processamento visual.
E, de fato, os crânios de Neandertal sugerem que os hominídeos extintos tinham regiões alongadas na parte de trás dos seus cérebros, o chamado "pão de Neandertal", onde o córtex visual se encontra. Os humanos anatomicamente modernos, por sua vez, evoluíram em África, onde a luz brilhante não exigia nenhum processamento visual extra, deixando os seres humanos livres para evoluir maiores lobos frontais.
Ao calcular quanto espaço do cérebro era necessário para outras tarefas, a equipa concluiu que os neandertais tinham relativamente menos espaço para o lobo frontal, uma região do cérebro que controla o pensamento social e a transmissão cultural. Os resultados explicam porque os neandertais não se enfeitavam ou produziam arte, disseram os cientistas.
Pequenas regiões cerebrais sociais significam menores redes sociais. Na verdade, os artefatos a partir de locais de Neandertais sugerem que eles tinham apenas um raio de 30 milhas de negociação (48,3 km), enquanto as redes de comércio humanas da mesma época poderiam abranger 200 milhas (321,9 km).
Com a concorrência de seres humanos, uma idade do gelo complicada e redes comerciais pequenas, os neandertais provavelmente não poderiam aceder aos recursos de climas melhores, facto que provavelmente os impediu de sobreviver.