Comer a tigela de cereais à noite pode ser muito pior do que fazê-lo de manhã. O corpo tende a transformar mais desse alimento em gordura durante a noite, enquanto o transforma em combustível durante o dia, sugere uma nova pesquisa.
O estudo, publicado a 21 de fevereiro na revista Current Biology, descobriu que a capacidade dos ratos para regular o açúcar no sangue varia durante o dia. Além disso, a alimentação noturna perturbou o seu relógio circadiano, que sinaliza o sono e a vigília, entre outras coisas, tendo-os levado a formar mais gordura.
As descobertas podem explicar porque os trabalhadores do turno da noite são mais propensos a desenvolver diabetes e obesidade. "Perturbar o seu relógio biológico leva a uma ruptura do metabolismo de tal forma que há mais tendência a ganhar gordura, mesmo com a mesma quantidade de ingestão calórica ou dieta", disse o co-autor Carl Johnson, cronobiologista da Universidade Vanderbilt. "Não é apenas o que você come que é importante, mas também quando você come".
Vários estudos no passado mostraram que os trabalhadores por turnos ganham mais peso e são mais propensos a desenvolver diabetes. Trabalhos anteriores também mostraram que os ratos (que são noturnos) ganham mais gordura se eles só puderem comer durante o dia, mesmo com a mesma ingestão calórica. Os pesquisadores suspeitaram que o relógio circadiano desempenhava um papel importante, embora ainda se desconheça de forma exata esse papel.
Para descobrir, Johnson e seus colegas testaram como os corpos de ratos processavam os alimentos durante todo o ciclo de 24 horas. Durante o dia, quando os ratos normalmente não comem, eles eram menos reponsivos à insulina, uma hormona que diz aos tecidos do corpo para tirar o açúcar do sangue, de modo a que possa ser usado como energia (o excesso de açúcar não utilizado como energia é transformado em gordura).
Além disso, quando interromperam os relógios circadianos dos ratos, mantendo-os numa luz vermelha fraca durante todo o dia, os ratos desenvolveram sinais de resistência à insulina, ou seja, os tecidos não responderam aos sinais da insulina para tirar o açúcar, e eles ganharam mais gordura. A resistência à insulina também tem sido ligada à diabetes e às doenças cardíacas em seres humanos.
As descobertas sugerem que as merendas até tarde na noite podem ser piores para as pessoas do que comer no início do dia, disse Johnson. Porque os estudos mais antigos têm mostrado que os seres humanos têm ritmos diários da sua glicose no sangue, mesmo com infusão de açúcar constante, os pesquisadores já suspeitavam que a sensibilidade à insulina aumentava e diminuía ao longo do dia.