Usando microchips sensíveis à luz implantados na superfície interna do olho, os cientistas conseguiram restaurar alguma visão a pacientes cegos, ajudando-os a reconhecer expressões faciais como sorrisos.
A acuidade visual dos novos dispositivos supera a mais alta resolução de qualquer outro implante visual, acrescentaram os pesquisadores. O implante, com o nome do Alpha-IMS, tem apenas cerca de 3 milímetros de comprimento por 3 mm de largura, e menos de 100 microns de espessura, tornando-se mais fino do que o diâmetro médio de um cabelo humano.
Apesar do seu tamanho reduzido, o microchip é carregado com 1.500 detectores de luz, que transmitem os impulsos eléctricos através dos nervos de um paciente para gerar uma imagem incolor de 1500 pixeis. O implante é colocado sob a retina, o forro interior do olho.
O dispositivo substitui essencialmente células degeneradas dos cones e bastonetes sensíveis à luz de pacientes que sofrem de doenças como a retinite pigmentosa, um grupo de doenças hereditárias que afligem 1 em 4.000 pessoas em todo o mundo.
No primeiro estudo com o implante, detalhado em 2010, o dispositivo poderia ajudar os pacientes a ler os ponteiros de um relógio, discernir tons de cinza, encontrar louças, identificar maçãs e bananas e combinar as letras do alfabeto para formar palavras. No entanto, a maioria dos 11 pacientes que receberam o implante não alcançaram esses resultados, em parte porque os pesquisadores ainda estavam a refinar o implante do dispositivo.
No mais recente ensaio clínico em humano com esses chips, nove pacientes alemães foram testados em laboratório, bem como ao ar livre e em casa durante um período de três a nove meses. O dispositivo restaurou a visão funcional à maioria dos pacientes - por exemplo, oito podem perceber a luz, sete podem dizer de onde a luz estava a vir e cinco poderiam detetar o movimento.
O sucesso deste último ensaio clínico deveu-se em grande parte ao facto dos pesquisadores já saberem onde colocar o implante sob a fóvea, um ponto próximo do centro da retina que é responsável pelo centro do campo de visão. Além disso, a nitidez visual de dois dos pacientes ultrapassou a acuidade vista no primeiro ensaio clínico.
Três foram capazes de ler letras espontaneamente. Além disso, dentro e fora do laboratório, cinco pacientes referiram a capacidade de reconhecer as características faciais, tais como a presença ou ausência de óculos, bem como distinguir objectos, tais como telefones, ler os sinais e encontrar maçanetas, ver onde pratos e talheres estavam e distinguir vinho tinto de vinho branco.
No entanto, o implante não vai ajudar nos casos em que o nervo óptico ou a retina têm danos, bem como nas retinas com fluxo de sangue insuficiente. Os pesquisadores pretendem agora melhorar a durabilidade do implante contra a corrosão. Pesquisas futuras podem também expandir o campo visual dos pacientes.
Estudos clínicos do implante também estão a ocorrer na Inglaterra e em Hong Kong. Os investigadores estão atualmente a tentar obter aprovação regulatória para começar os testes clínicos nos Estados Unidos e na Europa. Os cientistas detalharam as suas descobertas online ontem (20 fevereiro) na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.