A identidade de um paciente misterioso que ajudou Paul Broca a identificar a região do cérebro responsável pela linguagem foi descoberta, relatam pesquisadores.
A nova descoberta, detalhada na edição de janeiro da revista History of the Neurosciences, identifica o famoso paciente como Monsieur Louis Leborgne, um artesão francês que lutou toda a sua vida contra a epilepsia.
Em 1840, um paciente mudo foi internado no Hospital Bicêtre, perto de Paris, devido à afasia, ou incapacidade em falar. Essencialmente ele apenas se manteve lá, deteriorando-se lentamente. Somente em 1861, o homem, que veio a ser conhecido como Monsieur Leborgne, ou "Tan", porque era a sua única palavra, foi para a ala do famoso médico Paul Broca no hospital.
Após a sua morte Broca realizou a autópsia, na qual encontrou uma lesão numa região do cérebro dobrada para trás e para cima por trás dos olhos. Depois de fazer um exame detalhado, Broca concluiu que a afasia de Tan foi causada por danos nesta região, e que esta era a região particular do cérebro que controlava o discurso. Essa região do cérebro foi rebatizado mais tarde como área de Broca, em homenagem ao médico.
Na época, os cientistas estavam a debater se áreas específicas do cérebro realizavam funções específicas, ou se era uma protuberância indiferenciada que fezia uma tarefa, como o fígado, disse Marjorie Lorch, neurolinguista na Universidade de Londres, que não participou no estudo. "Tan foi o primeiro paciente cujo caso provou que danos numa parte específica do cérebro provocavam distúrbios específicos da fala", disse o autor do estudo Cezary Domanski, historiador médico na Marie Curie-Sklodowska University, na Polónia.
No entanto, a identidade de Tan permaneceu envolta em mistério. A maioria dos historiadores acreditavam que ele era um trabalhador, pobre analfabeto, enquanto outros diziam que ele tinha ficado louco com sífilis e que a loucura pode explicar a sua incapacidade de falar. Para descobrir exatamente quem era, Domanski começou a refazer a história do homem.
Olhando através dos registos médicos antigos, ele finalmente descobriu um atestado de óbito para Louis Victor Leborgne, que nasceu em 1809 em Moret, França. Domanski então utilizou documentos de arquivo para descobrir que Louis Leborgne foi um dos sete filhos de um professor. Ele mudou-se para Paris enquanto criança.
Leborgne aparentemente sofreu de epilepsia desde a infância. Mas, apesar dos seus ataques, ele cresceu para ser um artesão e um guardião da igreja, e trabalhou lá até ter 30 anos, quando perdeu a capacidade de falar e foi levado para o hospital. A epilepsia provavelmente causou o dano que levou Leborgne a perder o discurso.
No hospital, o seu estado piorou e ele acabou por ficar paralisado e acamado, e passou por uma cirurgia para a gangrena. Ele estava a morrer quando Broca o encontrou pela primeira vez. A nova descoberta dá uma identidade humana a um dos casos mais famosos nos livros de medicina.