Imagine-se num tempo de guerra. Você está encolhido num porão com o seu vilarejo inteiro, escondendo-se dos soldados inimigos armados lá fora. Um bebé começa a chorar, ameaçando expor o esconderijo. Você cobre a boca da criança com força e arrisca sufocá-la para salvar os outros?
Quando somos confrontados com escolhas difíceis como esta, certas partes do nosso cérebro acendem-se, ajudando-nos a navegar pelas situações moralmente pegajosas. Uma nova pesquisa descobriu que essas regiões do cérebro são mais ativas em indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o que sugere que eles tendem a ficar mais angustiados por dilemas morais do que as pessoas sem a condição.
"Diante de um problema deste tipo, as pessoas que sofrem deste tipo de transtorno de ansiedade mostra que se preocupam muito mais", disse o pesquisador Carles Soriano, do Hospital de Bellvitge, em Barcelona, à agência de notícias espanhola SINC. Soriano e a sua equipa estudaram 73 pacientes com TOC e 73 indivíduos de controlo, medindo a sua atividade cerebral com uma máquina de fMRI enquanto eles eram confrontados com decisões, como o dilema clássico do bebé a chorar.
Comparado com o grupo controle, os pacientes com TOC tinham maior grau de ativação no córtex órbito-frontal, uma região associada à tomada de decisão e para o desenvolvimento do sentimento moral, segundo os pesquisadores. Os pacientes com TOC não têm as mesmas respostas ao fazer escolhas mais triviais, como escolher entre ir para o campo ou para a praia no fim de semana, disseram os pesquisadores.
"Os dados permitem, pela primeira vez, objetivar a existência de disfunções cerebrais relacionadas à alteração de cognições complexas, como experimentar moralidade", disse Soriano. "Isso permite-nos expandir ainda mais a caracterização dos mecanismos cerebrais alterados no TOC". O TOC afeta pelo menos 1% da população e é caracterizado por comportamentos repetitivos que visam reduzir a ansiedade.
Enquanto a maioria dos casos envolve compulsões para limpar e executar outros rituais ou rotinas, outras formas da doença são marcadas por culpa sexual ou religiosidade patológica, sugerindo que os pacientes com TOC podem ser propensos a hipersensibilidade moral. O novo estudo aparece na revista Archives of General Psychiatry.
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