Pulmões saudáveis são o lar de comunidades bacterianas, tal como intestinos e pele saudáveis também o são. Essa foi uma descoberta de uma nova pesquisa que mostrou também que, apesar dos pacientes com fibrose cística poderem ter dificuldades pelas comunidades de bactérias que vivem nos seus pulmões, é a composição dessas colónias, ao invés de sua simples presença, que causa os problemas.
"Por muitos anos, as pessoas têm considerado o pulmão um orgão relativamente estéril", disse o pesquisador David Cornfield, professor de pediatria da Universidade de Stanford. "Isso fornece alguns dos primeiros dados de que há uma flora de bactérias que existem no pulmão e que estão presentes até mesmo no pulmão saudável."
A descoberta sugere ainda que os probióticos podem ajudar no tratamento de fibrose cística, uma perturbação genética que resulta de receber cópias de um gene recessivo de ambos os progenitores. O resultado é uma mucosa espessa e pegajosa nos pulmões e outros órgãos, que permite que certas bactérias cresçam demais.
Isso pode levar a infecções, bloqueios e dificuldades respiratórias, eventualmente, deficiências nutricionais, doenças endócrinas, como diabetes e infertilidade nos homens, entre outros problemas. Os pacientes tendem a não viver além dos 40 anos.
No novo estudo, os pesquisadores examinaram o escarro de 16 pacientes com fibrose cística e nove pacientes saudáveis de controle, e examinaram os organismos presentes utilizando sequenciamento genético. Ao examinar os genes, ao invés do crescimento da bactéria em laboratório, os pesquisadores foram capazes de obter um melhor controle sobre a diversidade de bactérias presentes.
Embora cada pessoa estudada tenha uma única comunidade bacteriana nos pulmões, os pacientes com fibrose cística tinham comunidades que eram mais semelhantes entre si do que com os das pessoas saudáveis. As comunidades dos pacientes também foram menos diversificadas.
"Isso sugere que provavelmente há algum benefício para ter bactérias nos pulmões, até certo ponto equilibradas", disse milharal. "O paradigma tradicional, de que todas as bactérias nos pulmões são más, provavelmente não é correto." Em vez disso, ele disse que os resultados suportam a ideia das bactérias nos pulmões como uma "floresta tropical". "Sabemos que numa floresta tropical, se as espécies são perdidas, desenvolve-se um desequilíbrio, e o ecossistema torna-se muito mais frágil".
Katrine Whiteson, pós-doutorada da San Diego State University, que estuda as comunidades microbianas do corpo humano disse que uma questão que não é abordada neste estudo, mas que está a ser abordada noutro é a questão de saber se as bactérias permanecem nos pulmões a longo prazo, ou se são "turistas" - com algumas castas a deixar os pulmões e novas a entrar.
A nova pesquisa, acredita Cornfield, pode levar a melhores tratamentos para pacientes com fibrose cística. Ele disse que antibióticos a longo prazo, um tratamento dado a muitos pacientes hoje, pode tornar-se mais eficaz se for combinado com probióticos para melhorar a diversidade bacteriana nos pulmões dos pacientes, apesar de muito mais pesquisa ser necessária para ver se esse é o caso. O estudo foi publicado na revista Science Translational Medicine.